A Reforma Tributária de 2025 marca um ponto de virada histórico no complexo sistema fiscal brasileiro. Após décadas de tributos sobrepostos e ineficientes, a reforma busca simplificar a tributação sobre o consumo, reduzir a burocracia e criar um ambiente mais transparente e favorável aos negócios. No entanto, alcançar esses objetivos exigirá das empresas uma profunda adaptação operacional e tecnológica.
1. Simplificação com o Sistema Dual de IVA
O núcleo da reforma é a criação de um modelo dual de IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que substituirá cinco tributos existentes (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por dois principais:
- CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) – tributo federal que substitui PIS/Cofins;
- IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) – tributo unificado de estados e municípios que substitui ICMS e ISS.
Ambos são não cumulativos, permitindo créditos tributários nas etapas anteriores da produção.
Além disso, haverá o Imposto Seletivo (IS), aplicado a produtos prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente.
O objetivo é claro: reduzir distorções e alinhar o sistema brasileiro aos modelos internacionais de IVA.
Entretanto, as empresas precisarão revisar sistemas, estruturas de preços e rotinas de compliance para operar de forma eficiente sob as novas regras.
2. Uma Transição Gradual e Complexa
A implementação ocorrerá ao longo de vários anos:
- 2026 –período de teste da CBS;
- 2027 – adoção completa da CBS (substituindo PIS/Cofins);
- 2029 – início gradual do IBS (substituindo ICMS/ISS);
- 2033 –consolidação total do novo modelo.
Essa longa transição cria um período híbrido em que os antigos e novos tributos coexistem, aumentando a complexidade no curto prazo.
Como destaca a CLM Controller, as empresas precisarão gerenciar dois sistemas simultaneamente, atualizando ERPs, notas fiscais e processos de conformidade.
3. Impactos Operacionais, Tecnológicos e Humanos
De acordo com a Thomson Reuters, a maioria das equipes fiscais corporativas considera a tecnologia como prioridade máxima.
As empresas estão investindo na modernização de ERPs e automação para lidar com os novos requisitos de emissão eletrônica de notas e de reporte de dados.
Ao mesmo tempo, o treinamento é essencial. Contadores e profissionais fiscais precisarão compreender novos códigos, alíquotas e mecanismos de crédito para evitar riscos de compliance.
A revisão de contratos também será crucial para garantir a correta incidência tributária e a transparência nos preços sob o novo regime.
4. Simples Nacional e Decisões Estratégicas
O Simples Nacional continuará existindo, mas com ajustes. As empresas poderão:
Permanecer integralmente no Simples, pagando todos os tributos via DAS unificado; ou
Pagar CBS e IBS separadamente, aproveitando créditos tributários.
A escolha do modelo ideal dependerá da estrutura da empresa, base de clientes e potencial de crédito — uma decisão estratégica que pode impactar competitividade e fluxo de caixa.
5. Impactos Setoriais e Oportunidades
A alíquota combinada de CBS + IBS deve variar entre 25% e 27%, mas os efeitos reais serão diferentes por setor.
Indústrias com alta tributação sobre insumos poderão se beneficiar dos créditos, enquanto empresas de serviços e varejo podem enfrentar aumento de carga efetiva.
Bens e serviços essenciais — como alimentação, saúde e educação — terão alíquotas reduzidas ou zero, enquanto produtos prejudiciais ao meio ambiente sofrerão tributação seletiva
6. Como as Empresas Devem se Preparar
Tanto a Thomson Reuters quanto a CLM Controller são unânimes em uma mensagem: a preparação deve começar agora.
As empresas devem:
- Criar um grupo de trabalho multidisciplinar (tributário, financeiro, TI, jurídico);
- Mapear exposições fiscais atuais e simular impactos;
- Atualizar sistemas ERP e de emissão eletrônica de notas;
- Treinar equipes e revisar contratos;
- Monitorar atualizações regulatórias e regras técnicas.
A Reforma Tributária de 2025 promete simplificação de longo prazo, mas a transição será desafiadora.
Não se trata apenas de uma mudança legal — é uma transformação empresarial em larga escala
As empresas que se anteciparem, modernizarem seus sistemas e capacitem suas equipes não apenas garantirão conformidade, mas também ganharão uma vantagem competitiva duradoura na nova era tributária.
Escrito por Paola Von Atzingen, da equipe da Drummond Advisors